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Efeito cognitivo dos AMs ou Carga Anticolinérgica

McCann Health Brazil

A Bexiga Hiperativa (BH) é caracterizada por um conjunto de sintomas urinários ligados diretamente à urgência – não necessariamente atrelada à incontinência urinária –, geralmente acompanhados de aumento da frequência urinária e noctúria. Ela pode ser manejada com medicamentos anticolinérgicos, os quais possuem uma série de eventos adversos associados à carga anticolinérgica. Esta pode ser definida como a exposição cumulativa a medicamentos anticolinérgicos ao longo da vida do paciente. Assim, a carga anticolinérgica tende a aumentar conforme os anos passam, resultando no aumento dos eventos adversos centrais e periféricos. Dentro desses eventos adversos podem ser listados: boca seca, constipação, quedas e fraturas, problemas neurológicos e comportamentais, prejuízo cognitivo e confusão. Além disso, estudos tem mostrado que a a dimensão dos eventos adversos em longo prazo é considerável. Evidências científicas apontam que as drogas anticolinérgicas estão diretamente associadas a problemas de desempenho físico e de realização de atividades cotidianas em idosos, isso porque a carga acumulada ao longo dos anos inicia o processo de agravamento dos eventos adversos. Em consonância, foi evidenciado que a utilização de anticolinérgicos – incluindo agentes antimuscarínicos, como os utilizados no tratamento de BH – está diretamente ligada a um risco ampliado de demência. Mais do que isso, a American Geriatrics Society Beers Criteria recomenda que drogas com propriedade anticolinérgica alta sejam evitadas em adultos mais velhos, sobretudo aqueles que possuem algum tipo de demência ou deficiência cognitiva.

Dentro do presente estudo, intitulado “Prevalence and Factors Associated with Cumulative Anticholinergic Burden Among Older Long-Stay Nursing Home Residents with Overactive Bladder”, a carga anticolinérgica foi calculada a partir da escala de carga cognitiva anticolinérgica e na dosagem diária específica de cada paciente. A fim de serem identificados fatores de predisposição, foi utilizado o Modelo Comportamental de Andersen. Já para determinar os fatores associados aos níveis de carga anticolinérgica, foram desenvolvidos modelos de regressão logística multivariável. O tempo de monitoramento desses pacientes analisados foi de seis meses, a partir do 101° dia de internação. Desta forma, o somatório da carga preestabelecida de cada medicamento do paciente é um reflexo da carga anticolinérgica geral. Além disso, foram considerados no estudo fatores e facilitadores individuais e contextuais para atingir maior nível de aprofundamento. O fator de nível individual contempla a prática de cuidados com a saúde, abrangendo dados demográficos do paciente, enquanto os contextuais são responsáveis por apontar a composição demográfica e social das comunidades. Já os facilitadores individuais apontam a renda do paciente e seu status, e o contextual analisa a proximidade com cuidadores da saúde.

Dada a ampla gama de fatores que geram um alto nível de sobrecarga, de forma geral, foi defendido o uso otimizado de anticolinérgicos visando à segurança do paciente. Quanto ao comprometimento das funções cognitivas, foi observado que pacientes com nível moderado e alto de carga anticolinérgica representavam a maioria dos que possuíam algum tipo de dano à cognição. Nesse espectro, estão incluídos comprometimento intacto, leve, moderado, moderadamente grave e grave. Porém, aparentemente, essa alta carga anticolinérgica diminui com o aumento do nível de comprometimento cognitivo. Assim, o estudo observou que 90% dos residentes de lares para idosos com BH foram submetidos a diferentes níveis de carga anticolinérgica ao longo de sua vivência – dois terços foram expostos a carga alta e moderada. O estudo concluiu que os idosos mais velhos moradores de lares para idosos de longo prazo sofrem ainda mais com a exposição à carga anticolinérgica. O estudo abre caminho para análises futuras, que deverão buscar novas alternativas a drogas anticolinérgicas, para que sejam exploradas novas maneiras de tratamento e, consequentemente, a qualidade de vida dos pacientes seja melhorada.

O segundo artigo, “Increased risk of dementia among patients with overactive bladder treated with an anticholinergic medication compared to a beta-3 agonist: a population-based cohort study”, busca definir se, de fato, há um aumento na incidência de demência em pacientes que tratam a bexiga hiperativa com algum medicamento anticolinérgico em comparação com o tratamento do beta-3 agonista. A amostragem incluiu 47.324 usuários de medicações anticolinérgicas (como oxibutinina, tolterodina, solifenacina, darifenacina, fesoterodina e tróspio) e 23.662 pacientes em uso de beta-3 agonista (mirabegrona), sendo que todos eles eram focados no tratamento de bexiga hiperativa. Os anticolinérgicos mais utilizados foram a tolterodina, com 40%; oxibutinina, com 29%; e solifenacina, com 26%. Enquanto a mediana de duração da prescrição desses medicamentos foi de 30 dias, a duração de prescrição do beta-3 agonista (mirabegrona) foi de 64 dias. Foi percebida uma maior tendência à demência dentro da amostragem de pacientes que estavam em uso de anticolinérgicos, em comparação ao beta-3 agonista. Além disso, notou-se que homens e pessoas com 75 anos ou menos em uso de anticolinérgico tiveram maior risco de demência em relação àqueles que estavam usando a mirabegrona.

A partir das evidências coletadas, o estudo reforça que os pacientes em uso de anticolinérgicos para a realização do tratamento de bexiga hiperativa possuem maior risco de demência. Assim, é declarado o apoio a outras pesquisas que visem associar anticolinérgicos à demência. Isso porque observou-se que tais medicamentos podem afetar o aspecto cognitivo por meio do aumento das placas amiloides ou inibindo receptores muscarínicos específicos nas regiões pré-frontal, córtex e hipocampo. Em resumo, o estudo, pioneiro na análise de medicamentos anticolinérgicos para BH e demência, evidencia o beta-3 agonista como uma nova forma de tratamento que reduz os riscos de prejuízo à cognição humana. Sabe-se que os receptores beta são responsáveis por funções cognitivas, contudo, ainda não está clara a função dos receptores beta-3. De forma geral, como os anticolinérgicos são comprovadamente atrelados à demência – já que é utilizado em muitos momentos da vida do paciente e em diferentes tratamentos –, o uso da mirabegrona é recomendado para não impactar nos níveis de carga anticolinérgica nos pacientes.

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Referências:

  1. Chatterjee S, Walker D, Kimura T, Aparasu RR. Prevalence and Factors Associated with Cumulative Anticholinergic Burden Among Older Long-Stay Nursing Home Residents with Overactive Bladder. Drugs Aging. 2021;38(4):311-326.
  2. Welk B, McArthur E. Increased risk of dementia among patients with overactive bladder treated with an anticholinergic medication compared to a beta-3 agonist: a population-based cohort study. BJU Int. 2020;126(1):183-190.

UROL-PROM-162 057-4849-PM Julho 2021